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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

POEMAS - VANGUARDAS EUROPEIAS

                        LITERATURA – VANGUARDAS EUROPEIAS







POEMAS FUTURISTAS


Ode triunfal
Álvaro de Campos

"À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! "

O Amor – Poesia futurista
Oswald de Andrade 

A Dona Branca Clara

Tome-se duas dúzias de beijocas
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho de Ciúme
Deite-se quatro colheres de açucar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!

Ode ao burguês – Mário de Andrade
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!



O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!

POEMAS CUBISTAS

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAhQHrDjU40LjPMUwBYmEbNdDzyrYebrQW3qirDlkADm1gudFmMOvi1IgUi5EnlmVIftdy-NTsC-VDEecUP_YsBPqpW9zg0QRoSn0flGnGiWfcx6M1TIBIPniUeDFojylwk8Dw4mRS7IY/s320/1260455366.png  APOLLINAIRE

https://daliteratura.files.wordpress.com/2012/04/apollinaire-ilpleut.jpg?w=321&h=614
Il pleut, de Guillaume Apollinaire

hípica
Saltos records
cavalos da penha
correm jaquéis e higionopolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca chá
Na sala de cocktails
ANDRADE, Oswald  de.



POEMAS DADAÍSTAS
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel.
Para fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que
você deseja dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas
            [ palavras que formam esse artigo
e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o
outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que
elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
Ei-lo um escritor infinitamente original e de
uma sensibilidade graciosa,
ainda que incompreendido do público.
Tristan Tzara


POEMAS SURREALISTAS
 Pré-história
Murilo Mendes
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

Canção do exílio
Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!


Um comentário:

  1. boa noite, sou aluna do 3ano e vi seu material sobre literatura indígena e africana e gostaria de saber se tem gabarito ou se esse material é para os professores trabalharem, pois iria ajudar muito ver meus resultados em relaçao a interpretacao

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