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quinta-feira, 3 de abril de 2014

ROTEIRO DE ATIVIDADES - ROMANTISMO (PROSA) - 2ª SÉRIE DO ENS. MÉDIO - 1 BIM.

SEEDUC - RJ
FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA PORTUGUESA
ROTEIRO DE ATIVIDADES – Versão do Aluno
2º ciclo do 1º bimestre da 2ª série
Eixo bimestral: POESIA E ROMANCE NO ROMANTISMO / RESUMO E RESENHA


Gerência de Produção
Luiz Barboza
Coordenação Acadêmica
Gerson Rodrigues
Coordenação de Equipe
Leandro N. Cristino
Conteudistas
Simone Lopes
Vanessa Brito

Edição On-Line Revista e Atualizada
Rio de Janeiro
2014


TEXTO GERADOR I

            O romance “Lucíola” (1862), de José de Alencar, constitui um exemplar da vertente urbana da prosa romântica. Tendo sido o primeiro da trilogia (“Lucíola”, “Diva” e “Senhora”) criada pelo autor, a narrativa representou grande ousadia na época de sua publicação ao abordar o polêmico tema da prostituição. O texto a seguir é o segundo capítulo do livro e trata da chegada do personagem Paulo à cidade do Rio de Janeiro e de seu primeiro encontro com a cortesã Lúcia em uma festa religiosa. Paulo está acompanhado de seu amigo Sá, que lhe apresenta à jovem.

LUCÍOLA
CAPÍTULO II
A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855.
Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais, serpejava nas faldas do outeiro, e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo.
Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos.
Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha, e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano recém-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?
Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
— É uma festa filosófica essa festa da Glória! Aprendi mais naquela meia hora de observação do que nos cinco anos que acabava de esperdiçar em Olinda com uma prodigalidade verdadeiramente brasileira.
A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada. Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição.
— Já vi esta moça! disse comigo. Mas onde?...
Ela pouco demorou-se na sua graciosa imobilidade e continuou lentamente o passeio interrompido. Meu companheiro cumprimentou-a com um gesto familiar; eu, com respeitosa cortesia, que me foi retribuída por uma imperceptível inclinação da fronte.
— Quem é esta senhora? perguntei a Sá.
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la ?. . .
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me ter feito suspeitar a verdade.
Depois de algumas voltas descobrimos ao longe a ondulação do seu vestido, e fomos encontrá-la, retirada a um canto, distribuindo algumas pequenas moedas de prata à multidão de pobres que a cercava. Voltou-se confusa ouvindo Sá pronunciar o seu nome:
— Lúcia!
— Não há modos de livrar-se uma pessoa desta gente! São de uma impertinência! disse ela mostrando os pobres e esquivando-se aos seus agradecimentos.
Feita a apresentação no tom desdenhoso e altivo com que um moço distinto se dirige a essas sultanas do ouro, e trocadas algumas palavras triviais, meu amigo perguntou-lhe:
— Vieste só?
— Em corpo e alma.
— E não tens companhia para a volta?
Ela fez um gesto negativo.
— Neste caso ofereço-te a minha, ou antes a nossa.
— Em qualquer outra ocasião aceitaria com muito pra­zer; hoje não posso.
— Já vejo que não foste franca!
— Não acredita?. .. Se eu viesse por passeio!
— E qual é o outro motivo que te pode trazer à festa da Glória?
— A senhora veio talvez por devoção? disse eu.
— A Lúcia devota!. . . Bem se vê que a não conheces.
— Um dia no ano não é muito! respondeu ela sorrindo.
— É sempre alguma coisa, repliquei.
Sá insistiu:
— Deixa-te disso; vem conosco.
— O senhor sabe que não é preciso rogar-me quando se trata de me divertir. Amanhã, qualquer dia, estou pronta. Esta noite, não!
— Decididamente há alguém que te espera.
— Ora! Faço mistério disto?
— Não é teu costume decerto.
— Portanto tenho o direito de ser acreditada. As aparências enganam tantas vezes! Não é verdade? disse voltando-se para mim com um sorriso.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999, p.14-18.


Adornos: enfeites, elementos de embelezamento.
Adro: terreno em frente e/ou em volta da igreja, plano ou escalonado, aberto ou murado.
Alvorada: crepúsculo matutino; a claridade que precede o romper do Sol.
Âmbito: espaço delimitado, recinto.
Apinhava-se: unia-se muito e apertadamente; aglomerava-se.
Assomando: surgindo.
Baeta: tecido felpudo de lã.
Casimira: tecido encorpado de lã, usado em geral para vestuário masculino.
Cortesia: cumprimento, reverência.
Cimo: cume.
Diáfanos: macérrimos; transparentes.
Ermida: pequena igreja.
Esgarçadas: divididas.
Esperdiçar: desperdiçar.
Faldas: abas da montanha.
Fatuidade: modo de quem é fátuo; presunção, vaidade; passageiro, fugaz.
Gozar: viver agradavelmente; divertir-se.
Inexprimível: que não se pode exprimir.
Laivos: traços.
Matizes: cores diversas.
Nos resignamos: nos conformarmos.
Obscuridade: ausência de celebridade, de fama, de notoriedade.
Observatório: espaço de observação.
Prodigalidade: esbanjamento; liberalidade.
Provinciano: Indivíduo natural ou habitante da província e/ ou imbuído do espírito provinciano.
Regurgitava: ficava muito cheio.
Romaria: peregrinação a algum local religioso; reunião de devotos; multidão.
Sarcasmo: zombaria.
Talhe: feição do corpo.
Tênues: pequeniníssimos, fraquíssimos.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 1

            No texto, Paulo narra sua chegada ao Rio de Janeiro em 1855, expressando as ações, as atitudes e os perfis da vida urbana que chamam sua atenção. Além disso, destaca-se um comentário sobre a personagem Lúcia.

            A partir dos fragmentos retirados do texto gerador 1, faça o que se pede:

A.      Identifique e explique como o narrador descreve a desigualdade social da sociedade de 1855.
 Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
— É uma festa filosófica essa festa da Glória! Aprendi mais naquela meia hora de observação do que nos cinco anos que acabava de esperdiçar em Olinda com uma prodigalidade verdadeiramente brasileira.
(Parágrafos: 5º e 6º)
B.     Comente sobre as reações de Paulo e do seu amigo Dr. Sá na apresentação de Lúcia e relacione à posição feminina da época.
Quem é esta senhora? perguntei a Sá.
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais.
Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la ?. . .
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me ter feito suspeitar a verdade.
(Parágrafos: 10º até 13º).

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 2

            A gramática tradicional trata como termos essenciais da oração o sujeito e o predicado. Sujeito é um termo que pode se referir a uma pessoa, um animal, uma planta, um objeto, um lugar sobre o qual se faz uma declaração. Já predicado é tudo aquilo que se informa sobre o sujeito, podendo indicar uma ação ou estado.

Diante disso, identifique o sujeito e predicado das seguintes expressões do texto:
A. “Já vi esta moça!” (8º parágrafo).
B. “- É uma festa filosófica essa festa da Glória” (6º parágrafo).

TEXTO GERADOR II

            No quarto capítulo, os protagonistas Lúcia e Paulo têm um encontro amoroso. De início, Lúcia se sente incomodada com a situação, o que deixa Paulo constrangido. Ele, nesse momento, ainda não entende os sentimentos da jovem, que, já apaixonada, sente-se mal por exercer seu papel de cortesã com o homem a quem ama. A partir deste fragmento do romance, serão trabalhadas duas habilidades de uso da língua.

LUCÍOLA
CAPÍTULO IV

(...)
Quando, porém, os meus lábios se colaram na tez de cetim e meu peito estreitou as formas encantadoras que debuxavam a seda, pareceu-me que o sangue lhe refluía ao coração. As palpitações eram bruscas e precipites. Estava lívida e mais branca do que o alvo colarinho do seu roupão. Duas lágrimas em fio, duas lágrimas longas e sentidas, como dizem que chora a corça expirando, pareciam cristalizadas sobre a face, de tão lentas que rolavam.
É o coração, quando fortemente confrangido por violenta emoção, que espreme esse soro do sangue que gela e coalha.
Pungiu-me aquela aflição.
Retirei vivamente o braço; enquanto Lúcia sentava-se trêmula, afastei-me revoltado contra mim, e, ao mesmo tempo, indignado contra essa mulher que zombava da minha credulidade, e contra Sá que me iludira. Não sabia o que pensar; para fugir a uma posição que me incomodava horrivelmente, fui debruçar-me na janela.
Um instante depois, ouvi sua voz doce e carinhosa:
Não se agaste comigo!
Voltei-me; ela sorriu a dois passos de mim, e com uma expressão suplicante, como de quem pedisse perdão.
Acabemos com isso, Lúcia. Sabes o que me traz à tua casa: se te desagrado por qualquer motivo, dize francamente, que eu tomo o meu chapéu e não te aborrecerei mais. Se pensas que valho tanto como os outros, não percas o tempo a fingir o que não és. Esta comédia de amor pode divertir os mocinhos de dezoito anos e os velhos de cinquenta; mas afianço-te que não lhe acho a menor graça.
Não seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?
Entretanto, te ofendeste com uma simples carícia!
Não me ofendi; e a prova é que não dei sinal de desagrado, nem conservo o menor ressentimento. Não me conhece!... Sei o que valho, e não sou capaz de iludir a ninguém, muito menos ao senhor.
Mas, há pouco, o que significavam essas lágrimas?
Ah, não repare! Sofro do coração; às vezes sobe-me o sangue à cabeça, fico muito pálida, e sinto uma dor aguda que me arranca lágrimas dos olhos!... Não é nada; passa-me logo. Já passou! concluiu com um sorriso dorido.
É diferente; desculpa. Incomodava-me essa ideia de pensares que estava disposto a fazer-te a corte. Seria soberanamente ridículo para nós ambos.
Decerto!
Lúcia acompanhou estas duas palavras com um riso estridente e um olhar que ainda vejo brilhar nas sombras de minhas recordações: olhar vivo e cintilante, que luziu como as chispas do brilhante ferido pela réstia da luz, e veio bater-me em cheio na face, cobrindo-me com o mais agro desprezo que pode estilar um coração de mulher.
Dirigiu-se a uma porta lateral, e fazendo correr com um movimento brusco a cortina de seda, desvendou de relance uma alcova elegante e primorosamente ornada. Então, voltou-se para mim com o riso nos lábios, e de um gesto faceiro da mão convidou-me a entrar.
(...)
Era outra mulher.
(...)
Saí alucinado!
(...)
Ao retirar-me ia segunda vez levar a mão à carteira, quando o olhar de Lúcia correu-me de vergonha. Entretanto ela, abatida ainda, porém calma, apertava-me a mão por despedida. Que magia tinham aqueles olhos fúlgidos, quando um sentimento forte lhes toldava a doce serenidade!
Conto-lhe estes fatos, como se escrevesse no dia em que eles sucederam, ignorando o seu futuro; entretanto, talvez que, apesar disto, compreenda as palavras equívocas e as causas ocultas que naquela ocasião resistiram à minha perspicácia.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999, p.23-28. Texto adaptado.
Chispas: faíscas.
Confrangido: oprimido, aflito, angustiado.
Corça: a fêmea do corço.
Debuxavam: traçavam, desenhavam.
Dorido: consternado, triste, magoado, dolorido.
Expirando: morrendo; perdendo a força, definhando.
Faceiro: que ostenta elegância; alegre; peralta.
Lívida: referente à cor branca conforme o texto.
Precipites: rápidas, velozes.
Pungiu: causou grande dor moral; torturou, atormentou; feriu.
Réstia: feixe de luz.
Tez: epiderme do rosto; pele.
Toldava: cobria.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 3

            São dois os termos essenciais da oração: sujeito e predicado. O sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração, podendo se referir a pessoas, animais, coisas, plantas, entre outros. Há orações com sujeito simples (um núcleo), composto (mais de um núcleo) e oculto (omissão do sujeito, reconhecido pela concordância) e há casos de sujeito indeterminado (sujeito não pode ser identificado ou verbo na 3ª pessoa do plural ou do singular, com o pronome se) e de oração sem sujeito (verbo impessoal e inexistência do sujeito). O predicado é a declaração que se faz do sujeito podendo ser verbal, nominal e verbo-nominal.

            No enunciado de “Lucíola” “Não seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?”, há uma característica em comum nas orações sublinhadas anteriormente:
(A) O uso do predicado nominal, pois é demonstrado o sentimento da protagonista.
(B) A presença do predicado verbo-nominal, pois são transmitidas a ação e a emoção.
(C) A ocorrência do sujeito oculto, pois o sujeito está implícito nas declarações.
(D) A recorrência ao sujeito simples, pois as orações remetem à fala de Lúcia.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 4

            No cotidiano, o ser humano pode usar expressões, pronomes, numerais, artigos e substantivos para fazer remissão a algo já dito anteriormente (anáfora) ou estabelecer relação a uma informação posterior (catáfora), constituindo o que se chama de coesão referencial. Exemplo 1: Ana foi ao baile. Ela gostou muito (Ela refere-se à Ana). Exemplo 2: Ela era tão boa, a minha mulher! (A minha mulher refere-se ao pronome ela).

Já a coesão sequencial usa a progressão do texto, podendo recorrer à mesma estrutura sintática, a expressões introdutoras de uma explicação ou resumo (paráfrases), ao tempo e ao aspecto do verbo, às conjunções, termos do mesmo campo lexical para manutenção do tema, adjunto adverbial, entre outros recursos. Exemplo 1: Eu fui ao restaurante. Em seguida, fui ao médico.

Considerando as informações gramaticais sobre coesão referencial e sequencial, reflita sobre o trecho abaixo, retirado do texto gerador 2, e responda às perguntas a seguir.

Um instante depois, ouvi sua voz doce e carinhosa:
Não se agaste comigo!
Voltei-me; ela sorriu a dois passos de mim, e com uma expressão suplicante, como de quem pedisse perdão.
Acabemos com isso, Lúcia. Sabes o que me traz à tua casa: se te desagrado por qualquer motivo, dize francamente, que eu tomo o meu chapéu e não te aborrecerei mais. Se pensas que valho tanto como os outros, não percas o tempo a fingir o que não és. Esta comédia de amor pode divertir os mocinhos de dezoito anos e os velhos de cinquenta; mas afianço-te que não lhe acho a menor graça.
Não seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?
Entretanto te ofendeste com uma simples carícia!
Não me ofendi; e a prova é que não dei sinal de desagrado, nem conservo o menor ressentimento. Não me conhece!... Sei o que valho, e não sou capaz de iludir a ninguém, muito menos ao senhor.


A. Quais são os termos gramaticais que Paulo utiliza para se referir à Lúcia?
B. O adjunto adverbial “um instante depois”, no início do fragmento, tem a função referencial ou sequencial? Por quê?

TEXTO GERADOR III

            No capítulo final da narrativa, Lúcia, já afastada da corte, volta a ser Maria da Glória. Grávida e muito doente, ela pede a Paulo que se case com sua irmã. Ele, no entanto, rejeita a proposta, mas concorda em cuidar da menina. Lúcia morre juntamente com o bebê que espera. É a redenção da heroína romântica. A partir deste texto, serão abordadas habilidades de leitura e de uso da língua.

LUCÍOLA
CAPÍTULO XXI

Era um domingo.
O novo ano tinha começado. A bonança que sucedera às grandes chuvas trouxera um dos sorrisos de primavera, como costumam desabrochar no Rio de Janeiro entre as fortes trovoadas do estio. As árvores cobriam-se da nova folhagem de um verde tenro; o campo aveludava a macia pelúcia da relva, e as frutas dos cajueiros se douravam aos raios do sol.
Uma brisa ligeira, ainda impregnada das evaporações das águas, refrescava a atmosfera Os lábios aspiravam com delícias o sabor desses puros bafejos, que lavavam os pulmões fatigados de uma respiração árida e miasmática. Os olhos se recreavam na festa campestre e matutina da natureza fluminense, da qual as belezas de todos os climas são convivas.
Subia a passo curto e repousado a ladeira de Santa Teresa, calculando a hora de minha chegada pelo despertar de Lúcia; o meu pensamento, porém abria as asas, e precedendo-me, ia saudar a minha doce e terna amiga.
Havia oito dias que Lúcia não andava boa. A fresca e vivace expansão de saúde desaparecera sob uma langue morbidez que a desfalecia; o seu sorriso, sempre angélico, tinha uns laivos melancólicos, que me penavam. Às vezes a surpreendia fitando em mim um olhar ardente e longo; então, ela voltava o rosto de confusa, enrubescendo. Tudo isto me inquietava; atribuindo a sua mudança a algum pesar oculto, a tinha interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as mágoas que a afligiam.
— Não digas isso, Paulo! Respondia com um tom de queixa. Posso ter pesares junto de ti? É uma ligeira indisposição; há de passar.
De bem longe avistei Lúcia que me esperava e me fez um aceno de impaciência; apressei o passo para alcançar o portão do jardim. Ela estendeu-me as mãos ambas risonha e atraindo-me, reclinou-se sobre o meu peito com um gracioso abandono. Sentamo-nos nos degraus da pequena escada de pedra, e informei-me de sua saúde.
— Já estou boa. Não vês?
Realmente as rosas de suas faces viçavam; era cintilante o brilho que desferia a sua pupila negra. Pelos lábios úmidos lentejava a onda perene de um sorriso, que orvalhava-lhe o semblante de luz e graça.
(...)
Lúcia calou-se de súbito, empalidecendo. Toda a sua pessoa assumiu-se, tomando a expressão vaga e estática de quem é absorvido por um recolho íntimo: figurava uma pessoa escutando-se viver interiormente. Até que ergueu-se espavorida; soltou um gemido pungente levando a mão ao regaço, e caiu fulminada em meus braços.
O abalo interior que sofrera esse corpo delicado fora tão forte, que a cintura do vestido se despedaçara.
Conduzi Lúcia ao seu leito, e só depois de cruéis angústias tive o consolo de vê-la recobrar os sentidos, mas para cair logo numa prostração, em que apesar dos meus rogos e instâncias, só a ouvia murmurar surdamente estas palavras incompreensíveis:
— Eu adivinhava que ele me levaria consigo!
— Ele quem, minha boa Maria?
— O teu, o nosso filho! Respondeu-me ela.
— Como! Julgas ?. . .
— Senti há pouco o seu primeiro e o seu último movimento!
— Um filho! Mas é um novo laço e mais forte que nos prende um ao outro. Serás mãe, minha querida Maria? Terás mais esse doce sentimento da maternidade para encher-te o coração; terás mais uma criatura com quem repartir a riqueza inexaurível de tua alma!
— Cala-te, Paulo! Ele morreu! Disse-me com a voz surda. E fui eu que o matei!
— Para que te afliges assim! Nosso filho vive, há de viver! Não sentiste há pouco o seu primeiro movimento.
Nisto chegou o médico a quem tinha escrito imediatamente, e que depois de examinar o estado de Lúcia, declarou que não inspirava receio. Ela estava ameaçada de um aborto, resultado do choque violento que sofrera, quando conheceu que se achava grávida. O doutor, um dos mais hábeis parteiros da corte, procurou desvanecer os receios de Lúcia, assegurando-lhe que seu filho vivia, e nada ainda fazia recear pela sua vida.
Apenas o médico saiu, ela olhou-me tristemente:
— Era o primeiro! Mas o tato das entranhas maternas, sejam elas virgens ainda, não engana. Nosso filho, Paulo, o teu, porque ele era mais teu do que meu, já não existe.
À noite declarou-se a febre; uma febre intensa que a fez delirar. Foi então que conheci quanto eu vivia no seu pensamento: ela não disse no delírio uma só palavra que não se referisse a mim e a alguma circunstância de nossa vida mútua, desde o primeiro dia em que nos encontramos.
Pela manhã, depois de um sono curto e agitado, achei-a mais tranquila:
— Tu me prometes, Paulo, casar com Ana!
— Não tratemos disso agora, minha amiga! Quando ficares boa, tudo o que tu quiseres eu farei para a tua felicidade.
— Mas essa promessa me daria tanto agora!
Escuta, Maria, esse casamento nos tornaria infelizes a ti, à tua irmã, e a mim que não poderia amá-la, mesmo por causa dessa semelhança! Tu viverias sempre entre mim e ela!
— Pois bem, promete-me que se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai.
— Juro-te!
Beijou-me as mãos:
— Ela vai ter tanta necessidade de um pai!
Os acessos de febre repetiram-se durante três dias, e sempre mais graves. Uma tarde em que o médico apresentou a Lúcia um remédio:
— Para que é isso? Perguntou ela com brandura.
— Para aliviá-la do seu incômodo. Logo que lançar o aborto, ficará inteiramente boa.
— Lançar!... Expelir meu filho de mim?
E o copo que Lúcia sustentava na mão trêmula, impelido com violência, voou pelo aposento e espedaçou-se de encontro à parede.
— Iremos juntos!... murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo.
De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o remédio que a devia salvar.
— Queres acompanhar teu filho, Maria, e abandonar-me só neste mundo. Vive por mim!
— Se eu pudesse viver, haveria forças que me separassem de ti? Haveria sacrifício que eu não fizesse para comprar mais alguns dias da minha felicidade? Mas Deus não quis. Sinto que a vida me foge!
A instâncias minhas bebeu finalmente o remédio, que nenhum efeito produziu. A febre lavrava com intensidade; eu já não tinha esperanças.
— O remédio de que eu preciso é o da religião. Quero confessar-me, Paulo.
Lúcia tomou os sacramentos com uma resignação angélica; e abraçando a irmã, disse-lhe:
— Perdes uma irmã, Ana; fica-te um pai. Ama-o por ele, por ti e por mim.
O dia se passou na cruel agonia que só compreendem aqueles que ajoelhados à borda de um leito viram finar-se gradualmente uma vida querida.
Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas noites, tinha insensivelmente adormecido, sentado como estava à beira da cama, com os lábios sobre a mão gelada de Lúcia e a testa apoiada no recosto do leito. O sono foi curto, povoado de sonhos horríveis; acordei sobressaltado e achei-me reclinado sobre o peito de Lúcia, que se sentara de encontro às almofadas para suster minha cabeça ao colo, como faria uma terna mãe com seu filho.
Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-me de beijos:
— Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te neste momento! Agora que o corpo já está morto e a carne álgida, não sente nem a dor nem o prazer, é a minha alma só que te beija, que se une à tua e se desprende parcela por parcela para se embeber em teu seio.
E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de carícias, bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
— Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse bálsamo celeste, meu amigo!
Eu soluçava como uma criança.
— Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua noiva! Oh! Agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.
A voz desfaleceu completamente, de extenuada que ela ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o travesseiro, e as suas palavras suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos espíritos celestes.
— Nunca te disse que te amava, Paulo!
— Mas eu sabia, e era feliz!
— Tu me purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu me santificaste com o teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no seio do Criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo essa palavra divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu último suspiro.
Lúcia pediu-me que abrisse a janela: era noite já; do leito víamos uma zona de azul na qual brilhava límpida e serena a estrela da tarde. Um sorriso pálido desfolhou-se ainda nos lábios sem cores: sublime êxtase iluminou a suave transparência de seu rosto. A beleza imaterial dos anjos deve ter aquela divina limpidez.
(...)

ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999, p.128-138.


Álgida: muito fria.
Aveludava: dava o aspecto de veludo à relva; macio, mais suave, mais agradável.
Ávidos: que deseja ardentemente; ansiosos; esfomeados; sedentos.
Bálsamo: Medicamento que tem qualidades balsâmicas; aroma; conforto.
Bonança: o bom tempo no mar; sossego, tranquilidade.
Brandura: mansidão; lentidão; fraqueza.
Campestre: relativo a campo.
Celeste: relativo ao céu; perfeito.
Consórcio: união; casamento.
Desfaleceu: diminuiu.
Desferia: lançava.
Desvanecer: fazer passar ou desaparecer; extinguir; aliviar.
Dulias: cultos prestados aos santos e aos anjos.
Enrubescendo: tornando-se corada, vermelha; pertubando-se.
Êxtase: encanto.
Estio: verão.
Expelir: lançar fora com violência; expulsar.
Extenuada: enfraquecida, cansada, prostrada, exausta.
Fadiga: cansaço.
Fluminense: relativo ao Estado do Rio de Janeiro.
Fulminada: profundamente comovida ou abalada; arrasada.
Inexaurível: inesgotável.
Laivos: indícios, traços.
Matutina: relativo à manhã. 
Morbidez: enfraquecimento doentio; abatimento ou esgotamento das forças.
Orvalhava-lhe: cobria-lhe.
Perene: contínua, incessante.
Profanar: transgredir; tornar impuro.
Prostração: grande debilidade, resultante de doença ou cansaço; abatimento.
Pungente: comovente, doloroso.
Regaço: colo.
Resignação: submissão paciente aos sofrimentos da vida.
Rogos: orações, preces.
Sacramentos: juramentos; sinal sagrado instituído por Jesus Cristo para distribuição da salvação divina àqueles que, recebendo-o, fazem uma profissão de fé; extrema-unção.
Sobressaltado: assustado, inquieto.
Suplicava: pedia com instância e humildade; rogava, implorava.
Tenro: novo, que tem pouco tempo; macio; delicado; fresco; pouco crescido.
Vigília: estado de quem, durante a noite, vela, permanecendo acordado.

ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 5

            O capítulo em destaque trata da fase em que Lúcia fica doente. Depois de saber que está grávida de Paulo, ela se sente em pecado, como se não pudesse viver o seu amor, pois havia sido cortesã. Há um conflito entre o espírito e a carne, que impede a felicidade da jovem, tornando o amor impossível de ser vivido na realidade e concretizável somente no plano espiritual. Devido à gravidade de seu estado de saúde, a personagem, muito enfraquecida, morre. Nesse momento, seu corpo é purificado pelo beijo de Paulo. Reflita sobre o conflito entre carne e espírito de Lúcia, lendo os trechos do quadro abaixo para responder às perguntas.


DOIS MOMENTOS DE LÚCIA


CULPA EM VIDA
DECLARAÇÃO DE AMOR ANTES DA MORTE

Havia oito dias que Lúcia não andava boa. A fresca e vivace expansão de saúde desaparecera sob uma langue morbidez que a desfalecia; o seu sorriso, sempre angélico, tinha uns laivos melancólicos, que me penavam. Às vezes a surpreendia fitando em mim um olhar ardente e longo; então, ela voltava o rosto de confusa, enrubescendo. Tudo isto me inquietava; atribuindo a sua mudança a algum pesar oculto, a tinha interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as mágoas que a afligiam.


E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de carícias. Bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
— Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse bálsamo celeste, meu amigo!
Eu soluçava como uma criança.
— Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua noiva! Oh! Agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.
A voz desfaleceu completamente, de extenuada que ela ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o travesseiro, e as suas palavras suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos espíritos celestes.
— Nunca te disse que te amava, Paulo!
— Mas eu sabia, e era feliz!
— Tu me purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu me santificaste com o teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no seio do Criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo essa palavra divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu último suspiro.






A.     Os sentimentos de Lúcia de introspecção, amor e tédio, típicos do Romantismo, estão intimamente relacionados à sensação de pecado da protagonista. Compare esses sentimentos de Lúcia com as suas confissões antes da morte.
B.     O Romantismo é uma estética que refletiu os valores e a moral da burguesia. A partir disso, comente o sentido da morte da protagonista dentro da narrativa.

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 6

            Em “Lucíola”, José de Alencar usa constantemente figuras de linguagem para expressar as emoções, as ações e a visão dos personagens diante da vida, dispondo de muitas figuras, destacando-se a metáfora, a comparação, a metonímia, a hipérbole e o eufemismo. 

A metáfora é uma comparação implícita, existente no pensamento humano, como em “Eu sou uma rosa”. A comparação é uma comparação explícita, usando a partícula “como”: “Eu sou como uma rosa”. A metonímia é uma figura que se baseia em relações de substituição: “Lemos José de Alencar” (autor e obra). O antonomásia é uma variedade de metonímia que consiste na substituição de um nome próprio por comum ou vice-versa: “Gonçalves Dias, o cantor dos índios”. A hipérbole é uma figura que consiste no exagero na mensagem: “Estou morto de cansado” (cansado demais).

Nos parágrafos: “Eu soluçava como uma criança” e “E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de caríciais”, são perceptíveis as seguintes figuras de linguagem:
(A)  Metonímia e hipérbole.
(B)   Antonomásia e comparação.
(C)   Metáfora e metonímia.
(D)  Comparação e hipérbole.

TEXTO GERADOR IV

            O último texto gerador deste Roteiro de Atividades é um exemplar do gênero resenha. A partir da leitura do romance “Iracema”, de José de Alencar, a autora destaca aspectos gerais da obra e, com base na leitura de outros críticos, desenvolve seu próprio ponto de vista. Esta resenha servirá de base para o trabalho com importantes habilidades de leitura e de uso da língua, além de servir de referência para a questão de produção textual.

Iracema”, exuberância e encanto

ALENCAR, José de. Iracema. (Col. Travessias). São Paulo. SP: Editora Moderna, 1993.

Publicado no ano 1865, o romance romântico “Iracema”, segundo livro da linha indianista de José de Alencar, foi muito bem aceito e elogiado por Machado de Assis em artigo publicado em um dos principais jornais da época, “O Diário do Rio de Janeiro”. Ainda hoje, a narrativa, uma das mais lembradas da prosa do autor, é reconhecida por seu valor artístico.
O escritor José Martiniano de Alencar, patrono da cadeira número vinte três da ABL (Academia Brasileira de Letras), nasceu em Messejana, no Estado do Ceará, no dia 01 de maio de 1829. Apesar de ter desempenhado várias atividades no decorrer de sua vida, como o direito, o jornalismo e a política, José de Alencar gravou seu nome entre os maiores escritores da literatura brasileira. Em sua prosa, ele abraçou o projeto romântico e, por meio das vertentes indianista, regionalista e urbana, revelou várias faces da sociedade da época.
O belo e comovente romance “Iracema”, certamente um dos mais emblemáticos da primeira geração do Romantismo, traz a história de amor entre Martim, colonizador português do Ceará, e Iracema, bela índia da tribo tabajara. A narração se inicia com Martim indo à caça com seu amigo Poti, guerreiro da tribo pitiguara inimiga dos tabajaras, e se perdendo nas matas ao adentrar no território rival. Inesperadamente, ele encontra Iracema, que o acolhe e o leva à cabana do pai dela. No desenrolar da história, a jovem se apaixona por Martim, o que é tomado como traição, pois ela não poderia se relacionar com nenhum homem, já que era sacerdotisa virgem de Tupã. Para tentar viver o amor proibido, os jovens preferem fugir. Em decorrência disso, Irapuã, chefe da tribo tabajara, decide se vingar do europeu e trava uma guerra com a tribo rival. O bravo guerreiro, no entanto, não contava com a derrota de sua tribo. A partir daí, a trama se encaminha para o seu final trágico. Além de ter sofrido muito com a morte de seu povo, a índia ficou grávida e sozinha aguardando a volta de seu amado esposo, que regressara a sua pátria. Pobre Iracema! Ao retornar, Martim a encontra à beira da morte de tanto se esforçar para alimentar seu filho Moacir.
Neste romance indianista, o autor José de Alencar, além de idealizar o índio e a mulher, exalta a natureza numa narrativa rica e envolvente. Tudo para dar mais beleza e expressar sentimento de nacionalidade ao contar a lenda da fundação do Ceará. Segundo vários críticos, a narrativa possui um caráter ao mesmo tempo poético e prosaico. Por outro lado, o entendimento do texto guarda bastante dificuldade. Isso ocorre, porque Alencar faz bastante uso da linguagem indígena. Esse, porém, é um dos motivos que torna a obra riquíssima em detalhes linguísticos, assim como as adjetivações e comparações que, usadas para descrever os personagens e exaltar a natureza, fazem com que o leitor "viaje" através da imaginação até a mata virgem descrita. Com efeito, essa descrição exuberante, ou seja, o culto à natureza é uma das principais características do Romantismo.
Sem dúvida, a obra é muito importante, pois apresenta fatos históricos relativos à formação do estado do Ceará. Entretanto, mais importante que isso é o fato de o romance revelar um sentimento de nacionalidade único ao fazer uso de linguagem característica e descrever tão bem as belezas naturais, o que proporciona encantamento nos leitores até os dias atuais.

REFERÊNCIAS

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.
PROENÇA, M.Cavalcanti. Estudos literários. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1982.

(Gouvêa, Adriana Luciano Santos. In: http://www.webartigos.com/artigos/resenha-do-romance-iracema/44217/#ixzz2H19VAds9. Acesso em 04.01.2013. Texto adaptado.)





ATIVIDADE DE LEITURA

QUESTÃO 7

A resenha acima, de autoria de Adriana L. S. Gouvêa, apresenta o romance “Iracema”, de José de Alencar. Nela, a autora, além de resumir brevemente a obra, expõe criticamente seu ponto de vista em relação ao romance, chamando a atenção para sua importância e para algumas de suas características.

A partir dessas observações, responda:

            Com base na leitura atenta dos dois últimos parágrafos, identifique um trecho em que a autora comenta criticamente a abordagem da natureza na obra “Iracema”, evidenciando um juízo de valor. 

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA

QUESTÃO 8

            Os adjetivos e advérbios são utilizados nos textos com variados propósitos. Em uma resenha, destacam-se seus usos como uma forma de expor o juízo de valor acerca de determinada obra, bem como seu papel modalizador, evitando um posicionamento categórico acerca de determinado ponto. No último parágrafo, por exemplo, o advérbio “muito”, associado ao adjetivo “importante” (“a obra é muito importante”), destaca o juízo positivo que a autora faz da obra de José de Alencar. Observe o seguinte trecho destacado da resenha e faça o que se pede:
o entendimento do texto guarda bastante dificuldade. Isso ocorre, porque Alencar faz abundante uso da linguagem indígena. Esse, porém, é um dos motivos que torna a obra riquíssima em detalhes linguísticos”.
            Entre as alternativas abaixo, marque aquela em que a substituição dos termos bastante e riquíssima mantém o mesmo sentido do texto original.   
a)      o entendimento do texto guarda suficiente dificuldade;/ Porém, esse é um dos motivos que torna a obra muito produtiva;
b)      o entendimento do texto guarda muita dificuldade; / Porém, esse é um dos motivos que torna a obra muito fértil;
c)      o entendimento do texto guarda moderada dificuldade / Porém, esse é um dos motivos que torna a obra sapientíssima;
d)     o entendimento do texto guarda excessiva dificuldade / Porém, esse é um dos motivos que torna a obra nobilíssima”.

ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL

QUESTÃO 9

            No contato com uma obra artística, é possível observar elementos que impressionam de algum modo. Uma pintura, por exemplo, pode chamar atenção por suas cores e formas. Já um filme pode atrair pela beleza ou emoção de suas cenas, enquanto um livro pode estimular a imaginação e fazer refletir sobre várias questões. Mas como contar o que se sente para alguém? Como motivar outras pessoas a ter a mesma experiência? A resposta para essas questões pode estar no gênero textual resenha. Isso porque, diferente do resumo, visto no ciclo passado, a resenha não traz apenas as ideias principais de uma obra, mas revela o posicionamento crítico de seu autor.
            Neste momento, você está convidado a desenvolver uma resenha sobre o romance lido neste bimestre, “Lucíola”, de José de Alencar. Para ajudá-lo nesta atividade, você pode se basear nas seguintes dicas:
1°. Depois de ler o livro, elabore um pequeno resumo. Lembre-se que a resenha também precisa mostrar, sinteticamente, de que trata a obra, qual a sua história.
2°. Pesquise sobre o autor, outros textos escritos por ele, a época de sua produção e sua temática predominante.
3°. Tente avaliar como seria a história do romance hoje. Pense de que forma são encaradas questões como o papel da mulher, o amor, a prostituição etc. Então, avalie se o romance permanece atual ou como ele pode contribuir para discutir essas questões.
4°. Pesquise outros textos críticos sobre o livro analisado. Saber o que outros autores disseram sobre o romance irá inspirar o seu trabalho e ajudar na construção de uma análise própria.
5°. Finalmente, defina o que dizer sobre o livro lido. O que vale destacar? O que mais chamou sua atenção? Que ideia quer defender?
            Para se sentir mais seguro antes de escrever, você também pode pedir ajuda ao seu professor para estruturar um roteiro.
            Agora, mãos à obra!


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