SEEDUC - RJ
FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA PORTUGUESA
ROTEIRO
DE ATIVIDADES – Versão do Aluno
2º ciclo do 1º bimestre da 2ª série
Eixo
bimestral: POESIA E ROMANCE NO ROMANTISMO / RESUMO E RESENHA
Gerência de Produção
Luiz Barboza
Coordenação Acadêmica
Gerson Rodrigues
Coordenação de Equipe
Leandro N. Cristino
Conteudistas
Simone Lopes
Vanessa Brito
Edição
On-Line Revista e Atualizada
Rio de
Janeiro
2014
TEXTO GERADOR I
O romance “Lucíola” (1862), de José
de Alencar, constitui um exemplar da vertente urbana da prosa romântica. Tendo
sido o primeiro da trilogia (“Lucíola”, “Diva” e “Senhora”) criada pelo autor,
a narrativa representou grande ousadia na época de sua publicação ao abordar o
polêmico tema da prostituição. O texto a seguir é o segundo capítulo do livro e
trata da chegada do personagem Paulo à cidade do Rio de Janeiro e de seu
primeiro encontro com a cortesã Lúcia em uma festa religiosa. Paulo está
acompanhado de seu amigo Sá, que lhe apresenta à jovem.
LUCÍOLA
CAPÍTULO II
A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro
foi em 1855.
Poucos dias depois da minha chegada, um
amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das
poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e
ao longo do cais, serpejava nas faldas
do outeiro, e apinhava-se em torno
da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo.
Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a
mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do
mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as
devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição
de seus adornos.
Enquanto Sá era disputado pelos numerosos
amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre
a pequena muralha, e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano
recém-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à
doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus
vários matizes e infinitas
gradações?
Todas as raças, desde o caucasiano sem
mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da
política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido;
todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os
tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil
lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou
pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo
aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
— É uma festa filosófica essa festa da
Glória! Aprendi mais naquela meia hora de observação do que nos cinco anos que
acabava de esperdiçar em Olinda com
uma prodigalidade verdadeiramente
brasileira.
A lua vinha assomando pelo cimo das
montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda
moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e
estrelado. Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. O vestido que o moldava era
cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um desses
rostos suaves, puros e diáfanos, que
parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada.
Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o
meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição.
— Já vi esta moça! disse comigo. Mas
onde?...
Ela pouco demorou-se na sua graciosa
imobilidade e continuou lentamente o passeio interrompido. Meu companheiro
cumprimentou-a com um gesto familiar; eu, com respeitosa cortesia, que me foi retribuída por uma imperceptível inclinação da
fronte.
— Quem é esta senhora? perguntei a Sá.
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes
da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades
sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher
bonita. Queres conhecê-la ?. . .
Compreendi e corei de minha simplicidade
provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato
da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um
pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me ter feito suspeitar a verdade.
Depois de algumas voltas descobrimos ao
longe a ondulação do seu vestido, e fomos encontrá-la, retirada a um canto,
distribuindo algumas pequenas moedas de prata à multidão de pobres que a
cercava. Voltou-se confusa ouvindo Sá pronunciar o seu nome:
— Lúcia!
— Não há modos de livrar-se uma pessoa
desta gente! São de uma impertinência! disse ela mostrando os pobres e
esquivando-se aos seus agradecimentos.
Feita a apresentação no tom desdenhoso e
altivo com que um moço distinto se dirige a essas sultanas do ouro, e trocadas
algumas palavras triviais, meu amigo perguntou-lhe:
— Vieste só?
— Em corpo e alma.
— E não tens companhia para a volta?
Ela fez um gesto negativo.
— Neste caso ofereço-te a minha, ou antes
a nossa.
— Em qualquer outra ocasião aceitaria com
muito prazer; hoje não posso.
— Já vejo que não foste franca!
— Não acredita?. .. Se eu viesse por
passeio!
— E qual é o outro motivo que te pode
trazer à festa da Glória?
— A senhora veio talvez por devoção? disse
eu.
— A Lúcia devota!. . . Bem se vê que a não
conheces.
— Um dia no ano não é muito! respondeu ela
sorrindo.
— É sempre alguma coisa, repliquei.
Sá insistiu:
— Deixa-te disso; vem conosco.
— O senhor sabe que não é preciso rogar-me
quando se trata de me divertir. Amanhã, qualquer dia, estou pronta. Esta noite,
não!
— Decididamente há alguém que te espera.
— Ora! Faço mistério disto?
— Não é teu costume decerto.
— Portanto tenho o direito de ser
acreditada. As aparências enganam tantas vezes! Não é verdade? disse
voltando-se para mim com um sorriso.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999,
p.14-18.
Adornos: enfeites, elementos de embelezamento.
Adro: terreno em frente
e/ou em volta da igreja, plano ou escalonado, aberto ou murado.
Alvorada: crepúsculo matutino; a claridade que precede o romper do Sol.
Âmbito: espaço delimitado, recinto.
Apinhava-se: unia-se muito e apertadamente; aglomerava-se.
Assomando: surgindo.
Baeta: tecido felpudo de lã.
Casimira: tecido encorpado de lã, usado em geral para vestuário
masculino.
Cortesia: cumprimento, reverência.
Cimo: cume.
Diáfanos: macérrimos; transparentes.
Ermida: pequena igreja.
Esgarçadas: divididas.
Esperdiçar: desperdiçar.
Faldas: abas da montanha.
Fatuidade: modo de quem é fátuo; presunção, vaidade; passageiro, fugaz.
Gozar: viver agradavelmente; divertir-se.
Inexprimível: que não se pode exprimir.
Laivos: traços.
Matizes: cores diversas.
Nos resignamos: nos conformarmos.
Obscuridade: ausência de celebridade, de fama, de notoriedade.
Observatório: espaço de observação.
Prodigalidade: esbanjamento; liberalidade.
Provinciano: Indivíduo natural ou habitante da província e/ ou imbuído do
espírito provinciano.
Regurgitava: ficava muito cheio.
Romaria: peregrinação a algum local religioso; reunião de devotos;
multidão.
Sarcasmo: zombaria.
Talhe: feição do corpo.
Tênues: pequeniníssimos, fraquíssimos.
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ATIVIDADE
DE LEITURA
QUESTÃO 1
No
texto, Paulo narra sua chegada ao Rio de Janeiro em 1855, expressando as ações,
as atitudes e os perfis da vida urbana que chamam sua atenção. Além disso,
destaca-se um comentário sobre a personagem Lúcia.
A partir dos fragmentos retirados do texto gerador 1, faça o que se pede:
A.
Identifique e explique como o narrador
descreve a desigualdade social da sociedade de 1855.
Todas
as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições,
desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário
humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo;
finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante
nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a
casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às
impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de
palha.
— É uma festa filosófica essa festa da Glória! Aprendi mais naquela meia
hora de observação do que nos cinco anos que acabava de esperdiçar em Olinda
com uma prodigalidade verdadeiramente brasileira.
(Parágrafos: 5º e 6º)
B. Comente
sobre as reações de Paulo e do seu amigo Dr. Sá na apresentação de Lúcia e
relacione à posição feminina da época.
— Quem é esta senhora? perguntei a
Sá.
A
resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e
fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo,
profano na difícil ciência das banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma
mulher bonita. Queres conhecê-la ?. . .
Compreendi
e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita
do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça
estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me
ter feito suspeitar a verdade.
(Parágrafos:
10º até 13º).
ATIVIDADE
DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO
2
A
gramática tradicional trata como termos essenciais da oração o sujeito e o
predicado. Sujeito é um termo que pode se referir a uma pessoa, um animal, uma
planta, um objeto, um lugar sobre o qual se faz uma declaração. Já predicado é
tudo aquilo que se informa sobre o sujeito, podendo indicar uma ação ou estado.
Diante
disso, identifique o sujeito e predicado das seguintes expressões do texto:
A. “Já
vi esta moça!” (8º parágrafo).
B. “- É
uma festa filosófica essa festa da Glória” (6º parágrafo).
TEXTO GERADOR II
No quarto capítulo, os protagonistas
Lúcia e Paulo têm um encontro amoroso. De início, Lúcia se sente incomodada com
a situação, o que deixa Paulo constrangido. Ele, nesse momento, ainda não
entende os sentimentos da jovem, que, já apaixonada, sente-se mal por exercer
seu papel de cortesã com o homem a quem ama. A partir deste fragmento do
romance, serão trabalhadas duas habilidades de uso da língua.
LUCÍOLA
CAPÍTULO IV
(...)
Quando, porém, os
meus lábios se colaram na tez de
cetim e meu peito estreitou as formas encantadoras que debuxavam a seda, pareceu-me que o sangue lhe refluía ao coração.
As palpitações eram bruscas e precipites.
Estava lívida e mais branca do que o
alvo colarinho do seu roupão. Duas lágrimas em fio, duas lágrimas longas e
sentidas, como dizem que chora a corça
expirando, pareciam cristalizadas
sobre a face, de tão lentas que rolavam.
É o coração, quando
fortemente confrangido por violenta
emoção, que espreme esse soro do sangue que gela e coalha.
Pungiu-me aquela aflição.
Retirei vivamente o
braço; enquanto Lúcia sentava-se trêmula, afastei-me revoltado contra mim, e,
ao mesmo tempo, indignado contra essa mulher que zombava da minha credulidade,
e contra Sá que me iludira. Não sabia o que pensar; para fugir a uma posição
que me incomodava horrivelmente, fui debruçar-me na janela.
Um instante depois,
ouvi sua voz doce e carinhosa:
— Não se agaste comigo!
Voltei-me; ela
sorriu a dois passos de mim, e com uma expressão suplicante, como de quem
pedisse perdão.
— Acabemos com isso, Lúcia. Sabes o que me traz à tua casa: se te
desagrado por qualquer motivo, dize francamente, que eu tomo o meu chapéu e não
te aborrecerei mais. Se pensas que valho tanto como os outros, não percas o
tempo a fingir o que não és. Esta comédia de amor pode divertir os mocinhos de
dezoito anos e os velhos de cinquenta; mas afianço-te que não lhe acho a menor
graça.
— Não seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou
alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?
— Entretanto, te ofendeste com uma simples carícia!
— Não me ofendi; e a prova é que não dei sinal de desagrado, nem
conservo o menor ressentimento. Não me conhece!... Sei o que valho, e não sou
capaz de iludir a ninguém, muito menos ao senhor.
— Mas, há pouco, o que significavam essas lágrimas?
— Ah, não repare! Sofro do coração; às vezes sobe-me o sangue à cabeça,
fico muito pálida, e sinto uma dor aguda que me arranca lágrimas dos olhos!...
Não é nada; passa-me logo. Já passou! concluiu com um sorriso dorido.
— É diferente; desculpa. Incomodava-me essa ideia de pensares que
estava disposto a fazer-te a corte. Seria soberanamente ridículo para nós
ambos.
— Decerto!
Lúcia acompanhou
estas duas palavras com um riso estridente e um olhar que ainda vejo brilhar
nas sombras de minhas recordações: olhar vivo e cintilante, que luziu como as chispas do brilhante ferido pela réstia da luz, e veio bater-me em cheio
na face, cobrindo-me com o mais agro desprezo que pode estilar um coração de
mulher.
Dirigiu-se a uma
porta lateral, e fazendo correr com um movimento brusco a cortina de seda,
desvendou de relance uma alcova elegante e primorosamente ornada. Então,
voltou-se para mim com o riso nos lábios, e de um gesto faceiro da mão convidou-me a entrar.
(...)
Era outra mulher.
(...)
Saí alucinado!
(...)
Ao retirar-me ia
segunda vez levar a mão à carteira, quando o olhar de Lúcia correu-me de
vergonha. Entretanto ela, abatida ainda, porém calma, apertava-me a mão por
despedida. Que magia tinham aqueles olhos fúlgidos, quando um sentimento forte
lhes toldava a doce serenidade!
Conto-lhe estes
fatos, como se escrevesse no dia em que eles sucederam, ignorando o seu futuro;
entretanto, talvez que, apesar disto, compreenda as palavras equívocas e as
causas ocultas que naquela ocasião resistiram à minha perspicácia.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999,
p.23-28. Texto adaptado.
Chispas:
faíscas.
Confrangido:
oprimido,
aflito, angustiado.
Corça:
a
fêmea do corço.
Debuxavam:
traçavam,
desenhavam.
Dorido:
consternado,
triste, magoado, dolorido.
Expirando:
morrendo;
perdendo a força, definhando.
Faceiro:
que
ostenta elegância; alegre; peralta.
Lívida:
referente
à cor branca conforme o texto.
Precipites:
rápidas,
velozes.
Pungiu:
causou
grande dor moral; torturou, atormentou; feriu.
Réstia:
feixe
de luz.
Tez:
epiderme
do rosto; pele.
Toldava:
cobria.
|
ATIVIDADE
DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 3
São dois os termos essenciais da
oração: sujeito e predicado. O sujeito é o ser sobre o qual se faz uma
declaração, podendo se referir a pessoas, animais, coisas, plantas, entre
outros. Há orações com sujeito simples (um núcleo), composto (mais de um
núcleo) e oculto (omissão do sujeito, reconhecido pela concordância) e há casos
de sujeito indeterminado (sujeito não pode ser identificado ou verbo na 3ª
pessoa do plural ou do singular, com o pronome se) e de oração sem sujeito
(verbo impessoal e inexistência do sujeito). O predicado é a declaração que se
faz do sujeito podendo ser verbal, nominal e verbo-nominal.
No enunciado de “Lucíola” “Não
seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou
alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?”, há
uma característica em comum nas orações sublinhadas anteriormente:
(A) O uso do predicado nominal, pois é demonstrado o
sentimento da protagonista.
(B) A presença do predicado verbo-nominal, pois são transmitidas
a ação e a emoção.
(C) A ocorrência do sujeito oculto, pois o sujeito está
implícito nas declarações.
(D) A recorrência ao sujeito simples, pois as orações
remetem à fala de Lúcia.
ATIVIDADE
DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 4
No cotidiano, o ser humano pode usar
expressões, pronomes, numerais, artigos e substantivos para fazer remissão a
algo já dito anteriormente (anáfora) ou estabelecer relação a uma informação
posterior (catáfora), constituindo o que se chama de coesão referencial. Exemplo 1: Ana foi ao baile. Ela gostou muito
(Ela refere-se à Ana). Exemplo 2: Ela era tão boa, a minha mulher! (A minha
mulher refere-se ao pronome ela).
Já a coesão sequencial usa a progressão do
texto, podendo recorrer à mesma estrutura sintática, a expressões introdutoras
de uma explicação ou resumo (paráfrases), ao tempo e ao aspecto do verbo, às
conjunções, termos do mesmo campo lexical para manutenção do tema, adjunto
adverbial, entre outros recursos. Exemplo 1: Eu fui ao restaurante. Em
seguida, fui ao médico.
Considerando
as informações gramaticais sobre coesão referencial e sequencial, reflita sobre
o trecho abaixo, retirado do texto gerador 2, e responda às perguntas a seguir.
Um instante depois,
ouvi sua voz doce e carinhosa:
— Não se agaste comigo!
Voltei-me; ela
sorriu a dois passos de mim, e com uma expressão suplicante, como de quem
pedisse perdão.
— Acabemos com isso, Lúcia. Sabes o que me traz à tua casa: se te
desagrado por qualquer motivo, dize francamente, que eu tomo o meu chapéu e não
te aborrecerei mais. Se pensas que valho tanto como os outros, não percas o
tempo a fingir o que não és. Esta comédia de amor pode divertir os mocinhos de
dezoito anos e os velhos de cinquenta; mas afianço-te que não lhe acho a menor
graça.
— Não seja tão injusto! Em que lhe pareço fingida? Já me perguntou
alguma coisa que eu lhe negasse? Já me recusei a um pedido seu?
— Entretanto te ofendeste com uma simples carícia!
— Não me ofendi; e a prova é que não dei sinal de desagrado, nem
conservo o menor ressentimento. Não me conhece!... Sei o que valho, e não sou
capaz de iludir a ninguém, muito menos ao senhor.
A. Quais são os termos gramaticais que Paulo utiliza para se
referir à Lúcia?
B. O adjunto adverbial “um instante depois”, no início do
fragmento, tem a função referencial ou sequencial? Por quê?
TEXTO GERADOR III
No capítulo final da narrativa,
Lúcia, já afastada da corte, volta a ser Maria da Glória. Grávida e muito
doente, ela pede a Paulo que se case com sua irmã. Ele, no entanto, rejeita a
proposta, mas concorda em cuidar da menina. Lúcia morre juntamente com o bebê
que espera. É a redenção da heroína romântica. A partir deste texto, serão
abordadas habilidades de leitura e de uso da língua.
LUCÍOLA
CAPÍTULO XXI
Era um domingo.
O novo ano tinha começado. A bonança que sucedera às grandes chuvas
trouxera um dos sorrisos de primavera, como costumam desabrochar no Rio de
Janeiro entre as fortes trovoadas do estio.
As árvores cobriam-se da nova folhagem de um verde tenro; o campo aveludava
a macia pelúcia da relva, e as frutas dos cajueiros se douravam aos raios do
sol.
Uma brisa ligeira, ainda impregnada das
evaporações das águas, refrescava a atmosfera Os lábios aspiravam com delícias
o sabor desses puros bafejos, que lavavam os pulmões fatigados de uma respiração
árida e miasmática. Os olhos se recreavam na festa campestre e matutina da
natureza fluminense, da qual as
belezas de todos os climas são convivas.
Subia a passo curto e repousado a ladeira
de Santa Teresa, calculando a hora de minha chegada pelo despertar de Lúcia; o
meu pensamento, porém abria as asas, e precedendo-me, ia saudar a minha doce e
terna amiga.
Havia oito dias que Lúcia não andava boa.
A fresca e vivace expansão de saúde desaparecera sob uma langue morbidez que a desfalecia; o seu sorriso,
sempre angélico, tinha uns laivos
melancólicos, que me penavam. Às vezes a surpreendia fitando em mim um olhar
ardente e longo; então, ela voltava o rosto de confusa, enrubescendo. Tudo isto me inquietava; atribuindo a sua mudança a
algum pesar oculto, a tinha interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as
mágoas que a afligiam.
— Não digas isso, Paulo! Respondia com um
tom de queixa. Posso ter pesares junto de ti? É uma ligeira indisposição; há de
passar.
De bem longe avistei Lúcia que me esperava
e me fez um aceno de impaciência; apressei o passo para alcançar o portão do
jardim. Ela estendeu-me as mãos ambas risonha e atraindo-me, reclinou-se sobre
o meu peito com um gracioso abandono. Sentamo-nos nos degraus da pequena escada
de pedra, e informei-me de sua saúde.
— Já estou boa. Não vês?
Realmente as rosas de suas faces viçavam;
era cintilante o brilho que desferia
a sua pupila negra. Pelos lábios úmidos lentejava a onda perene de um sorriso, que orvalhava-lhe
o semblante de luz e graça.
(...)
Lúcia
calou-se de súbito, empalidecendo. Toda a sua pessoa assumiu-se, tomando a
expressão vaga e estática de quem é absorvido por um recolho íntimo: figurava
uma pessoa escutando-se viver interiormente. Até que ergueu-se espavorida;
soltou um gemido pungente levando a
mão ao regaço, e caiu fulminada em meus braços.
O abalo
interior que sofrera esse corpo delicado fora tão forte, que a cintura do
vestido se despedaçara.
Conduzi
Lúcia ao seu leito, e só depois de cruéis angústias tive o consolo de vê-la
recobrar os sentidos, mas para cair logo numa prostração, em que apesar dos meus rogos e instâncias, só a ouvia murmurar surdamente estas palavras
incompreensíveis:
— Eu
adivinhava que ele me levaria consigo!
— Ele quem,
minha boa Maria?
— O teu, o
nosso filho! Respondeu-me ela.
— Como!
Julgas ?. . .
— Senti há
pouco o seu primeiro e o seu último movimento!
— Um filho!
Mas é um novo laço e mais forte que nos prende um ao outro. Serás mãe, minha
querida Maria? Terás mais esse doce sentimento da maternidade para encher-te o
coração; terás mais uma criatura com quem repartir a riqueza inexaurível de tua alma!
— Cala-te,
Paulo! Ele morreu! Disse-me com a voz surda. E fui eu que o matei!
— Para que
te afliges assim! Nosso filho vive, há de viver! Não sentiste há pouco o seu
primeiro movimento.
Nisto chegou
o médico a quem tinha escrito imediatamente, e que depois de examinar o estado
de Lúcia, declarou que não inspirava receio. Ela estava ameaçada de um aborto,
resultado do choque violento que sofrera, quando conheceu que se achava
grávida. O doutor, um dos mais hábeis parteiros da corte, procurou desvanecer os receios de Lúcia,
assegurando-lhe que seu filho vivia, e nada ainda fazia recear pela sua vida.
Apenas o
médico saiu, ela olhou-me tristemente:
— Era o
primeiro! Mas o tato das entranhas maternas, sejam elas virgens ainda, não
engana. Nosso filho, Paulo, o teu, porque ele era mais teu do que meu, já não
existe.
À noite
declarou-se a febre; uma febre intensa que a fez delirar. Foi então que conheci
quanto eu vivia no seu pensamento: ela não disse no delírio uma só palavra que
não se referisse a mim e a alguma circunstância de nossa vida mútua, desde o
primeiro dia em que nos encontramos.
Pela manhã,
depois de um sono curto e agitado, achei-a mais tranquila:
— Tu me prometes,
Paulo, casar com Ana!
— Não
tratemos disso agora, minha amiga! Quando ficares boa, tudo o que tu quiseres
eu farei para a tua felicidade.
— Mas essa
promessa me daria tanto agora!
Escuta,
Maria, esse casamento nos tornaria infelizes a ti, à tua irmã, e a mim que não
poderia amá-la, mesmo por causa dessa semelhança! Tu viverias sempre entre mim
e ela!
— Pois bem,
promete-me que se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai.
— Juro-te!
Beijou-me as
mãos:
— Ela vai
ter tanta necessidade de um pai!
Os acessos
de febre repetiram-se durante três dias, e sempre mais graves. Uma tarde em que
o médico apresentou a Lúcia um remédio:
— Para que é
isso? Perguntou ela com brandura.
— Para
aliviá-la do seu incômodo. Logo que lançar o aborto, ficará inteiramente boa.
— Lançar!...
Expelir meu filho de mim?
E o copo que
Lúcia sustentava na mão trêmula, impelido com violência, voou pelo aposento e
espedaçou-se de encontro à parede.
— Iremos
juntos!... murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe
servirá de túmulo.
De joelhos à
cabeceira eu suplicava-lhe que
bebesse o remédio que a devia salvar.
— Queres
acompanhar teu filho, Maria, e abandonar-me só neste mundo. Vive por mim!
— Se eu
pudesse viver, haveria forças que me separassem de ti? Haveria sacrifício que
eu não fizesse para comprar mais alguns dias da minha felicidade? Mas Deus não
quis. Sinto que a vida me foge!
A instâncias
minhas bebeu finalmente o remédio, que nenhum efeito produziu. A febre lavrava
com intensidade; eu já não tinha esperanças.
— O remédio
de que eu preciso é o da religião. Quero confessar-me, Paulo.
Lúcia tomou
os sacramentos com uma resignação angélica; e abraçando a
irmã, disse-lhe:
— Perdes uma
irmã, Ana; fica-te um pai. Ama-o por ele, por ti e por mim.
O dia se
passou na cruel agonia que só compreendem aqueles que ajoelhados à borda de um
leito viram finar-se gradualmente uma vida querida.
Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas noites, tinha
insensivelmente adormecido, sentado como estava à beira da cama, com os lábios
sobre a mão gelada de Lúcia e a testa apoiada no recosto do leito. O sono foi
curto, povoado de sonhos horríveis; acordei sobressaltado e achei-me reclinado sobre o peito de Lúcia, que se
sentara de encontro às almofadas para suster minha cabeça ao colo, como faria
uma terna mãe com seu filho.
Mesmo
adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-me de beijos:
— Se
soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te neste momento! Agora que o
corpo já está morto e a carne álgida,
não sente nem a dor nem o prazer, é a minha alma só que te beija, que se une à
tua e se desprende parcela por parcela para se embeber em teu seio.
E seus
lábios ávidos devoravam-me o rosto
de carícias, bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
— Se alguma
coisa me pudesse salvar ainda, seria esse bálsamo
celeste, meu amigo!
Eu soluçava
como uma criança.
— Beija-me
também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua noiva! Oh! Agora posso te
confessar sem receio. Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento em que
te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra.
Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma
existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter
neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.
A voz desfaleceu completamente, de extenuada que ela ficara por esse
enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o travesseiro, e as suas palavras
suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos espíritos celestes.
— Nunca te
disse que te amava, Paulo!
— Mas eu
sabia, e era feliz!
— Tu me
purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu me santificaste com o teu
primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no seio do Criador. Fui tua esposa
no céu! E, contudo essa palavra divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu
último suspiro.
Lúcia
pediu-me que abrisse a janela: era noite já; do leito víamos uma zona de azul
na qual brilhava límpida e serena a estrela da tarde. Um sorriso pálido
desfolhou-se ainda nos lábios sem cores: sublime êxtase iluminou a suave transparência de seu rosto. A beleza
imaterial dos anjos deve ter aquela divina limpidez.
(...)
ALENCAR, José de. Lucíola. 5 ed. São Paulo: FTD, 1999,
p.128-138.
Álgida: muito fria.
Aveludava: dava o
aspecto de veludo à relva; macio, mais suave, mais agradável.
Ávidos: que deseja ardentemente;
ansiosos; esfomeados; sedentos.
Bálsamo: Medicamento que tem
qualidades balsâmicas; aroma; conforto.
Bonança: o bom tempo no mar; sossego,
tranquilidade.
Brandura: mansidão; lentidão;
fraqueza.
Campestre: relativo a
campo.
Celeste: relativo ao céu; perfeito.
Consórcio: união;
casamento.
Desfaleceu: diminuiu.
Desferia: lançava.
Desvanecer: fazer
passar ou desaparecer; extinguir; aliviar.
Dulias: cultos prestados aos santos
e aos anjos.
Enrubescendo: tornando-se
corada, vermelha; pertubando-se.
Êxtase: encanto.
Estio: verão.
Expelir: lançar fora com violência; expulsar.
Extenuada: enfraquecida, cansada, prostrada, exausta.
Fadiga: cansaço.
Fluminense: relativo ao Estado do Rio de Janeiro.
Fulminada: profundamente comovida ou abalada; arrasada.
Inexaurível: inesgotável.
Laivos: indícios, traços.
Matutina: relativo à manhã.
Morbidez: enfraquecimento doentio; abatimento ou esgotamento das forças.
Orvalhava-lhe: cobria-lhe.
Perene: contínua, incessante.
Profanar: transgredir; tornar impuro.
Prostração: grande debilidade, resultante de doença ou cansaço; abatimento.
Pungente: comovente, doloroso.
Regaço: colo.
Resignação: submissão paciente aos sofrimentos da vida.
Rogos: orações, preces.
Sacramentos: juramentos; sinal sagrado instituído por Jesus Cristo para
distribuição da salvação divina àqueles que, recebendo-o, fazem uma profissão
de fé; extrema-unção.
Sobressaltado: assustado, inquieto.
Suplicava: pedia com instância e humildade; rogava, implorava.
Tenro: novo, que tem pouco tempo; macio; delicado; fresco; pouco crescido.
Vigília: estado de quem, durante a noite, vela, permanecendo acordado.
|
ATIVIDADE
DE LEITURA
QUESTÃO 5
O capítulo em destaque trata da fase
em que Lúcia fica doente. Depois de saber que está grávida de Paulo, ela se
sente em pecado, como se não pudesse viver o seu amor, pois havia sido cortesã.
Há um conflito entre o espírito e a carne, que impede a felicidade da jovem,
tornando o amor impossível de ser vivido na realidade e concretizável somente
no plano espiritual. Devido à gravidade de seu estado de saúde, a personagem,
muito enfraquecida, morre. Nesse momento, seu corpo é purificado pelo beijo de
Paulo. Reflita sobre o conflito entre carne e espírito de Lúcia, lendo os
trechos do quadro abaixo para responder às perguntas.
DOIS MOMENTOS DE LÚCIA
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CULPA EM VIDA
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DECLARAÇÃO DE AMOR ANTES DA MORTE
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Havia oito dias que Lúcia
não andava boa. A fresca e vivace expansão de saúde desaparecera sob uma
langue morbidez que a desfalecia;
o seu sorriso, sempre angélico, tinha uns laivos melancólicos, que me penavam. Às vezes a surpreendia
fitando em mim um olhar ardente e longo; então, ela voltava o rosto de
confusa, enrubescendo. Tudo isto
me inquietava; atribuindo a sua mudança a algum pesar oculto, a tinha
interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as mágoas que a afligiam.
|
E seus
lábios ávidos devoravam-me o rosto
de carícias. Bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
— Se
alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse bálsamo celeste, meu
amigo!
Eu
soluçava como uma criança.
— Beija-me
também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua noiva! Oh! Agora posso te
confessar sem receio. Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento em
que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na
terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento
por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que
se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.
A voz desfaleceu completamente, de extenuada que ela ficara por esse
enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o travesseiro, e as suas
palavras suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos espíritos celestes.
— Nunca te
disse que te amava, Paulo!
— Mas eu
sabia, e era feliz!
— Tu me
purificaste ungindo-me com os teus lábios. Tu me santificaste com o teu primeiro
olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio
de nossas almas se fez no seio do Criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo
essa palavra divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu último suspiro.
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A. Os sentimentos de Lúcia de
introspecção, amor e tédio, típicos do Romantismo, estão
intimamente relacionados à sensação de pecado da protagonista. Compare esses
sentimentos de Lúcia com as suas confissões antes da morte.
B. O Romantismo é uma estética
que refletiu os valores e a moral da burguesia. A partir disso, comente o sentido da morte da
protagonista dentro da narrativa.
ATIVIDADE
DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 6
Em “Lucíola”, José de Alencar usa
constantemente figuras de linguagem para expressar as emoções, as ações e a
visão dos personagens diante da vida, dispondo de muitas figuras, destacando-se
a metáfora, a comparação, a metonímia, a hipérbole e o eufemismo.
A metáfora é uma comparação implícita, existente no
pensamento humano, como em “Eu sou uma
rosa”. A comparação é uma comparação explícita, usando a partícula “como”:
“Eu sou como uma rosa”. A metonímia é
uma figura que se baseia em relações de substituição: “Lemos José de Alencar” (autor e obra). O
antonomásia é uma variedade de metonímia que consiste na substituição de um
nome próprio por comum ou vice-versa: “Gonçalves Dias, o cantor dos índios”. A hipérbole é uma figura que consiste no
exagero na mensagem: “Estou morto de
cansado” (cansado demais).
Nos parágrafos: “Eu soluçava como uma criança” e “E seus
lábios ávidos devoravam-me o rosto de caríciais”, são perceptíveis as
seguintes figuras de linguagem:
(A) Metonímia e hipérbole.
(B) Antonomásia e comparação.
(C) Metáfora e metonímia.
(D) Comparação e hipérbole.
TEXTO GERADOR IV
O
último texto gerador deste Roteiro de Atividades é um exemplar do gênero
resenha. A partir da leitura do romance “Iracema”, de José de Alencar, a autora
destaca aspectos gerais da obra e, com base na leitura de outros críticos,
desenvolve seu próprio ponto de vista. Esta resenha servirá de base para o
trabalho com importantes habilidades de leitura e de uso da língua, além de
servir de referência para a questão de produção textual.
“Iracema”,
exuberância e encanto
ALENCAR, José de. Iracema. (Col. Travessias). São Paulo. SP: Editora Moderna, 1993.
Publicado no ano
1865, o romance romântico “Iracema”, segundo livro da linha indianista de José
de Alencar, foi muito bem aceito e elogiado por Machado de Assis em artigo
publicado em um dos principais jornais da época, “O Diário do Rio de Janeiro”. Ainda hoje, a narrativa, uma das mais
lembradas da prosa do autor, é reconhecida por seu valor artístico.
O escritor José
Martiniano de Alencar, patrono da
cadeira número vinte três da ABL (Academia Brasileira de Letras), nasceu em
Messejana, no Estado do Ceará, no dia 01 de maio de 1829. Apesar de ter
desempenhado várias atividades no decorrer de sua vida, como o direito, o
jornalismo e a política, José de Alencar gravou seu nome entre os maiores
escritores da literatura brasileira. Em sua prosa, ele abraçou o projeto
romântico e, por meio das vertentes indianista, regionalista e urbana, revelou
várias faces da sociedade da época.
O belo e
comovente romance “Iracema”, certamente um dos mais emblemáticos da primeira
geração do Romantismo, traz a história de amor entre Martim, colonizador
português do Ceará, e Iracema, bela índia da tribo tabajara. A narração se
inicia com Martim indo à caça com seu amigo Poti, guerreiro da tribo pitiguara
inimiga dos tabajaras, e se perdendo nas matas ao adentrar no território rival.
Inesperadamente, ele encontra Iracema, que o acolhe e o leva à cabana do pai
dela. No desenrolar da história, a jovem se
apaixona por Martim, o que é tomado como traição, pois ela não poderia se
relacionar com nenhum homem, já que era sacerdotisa virgem de Tupã. Para tentar
viver o amor proibido, os jovens preferem fugir. Em decorrência disso, Irapuã,
chefe da tribo tabajara, decide se vingar do europeu e trava uma guerra com a
tribo rival. O bravo guerreiro, no entanto, não contava com a derrota de sua
tribo. A partir daí, a trama se encaminha para o seu final trágico. Além de ter
sofrido muito com a morte de seu povo, a índia ficou grávida e sozinha
aguardando a volta de seu amado esposo, que regressara a sua pátria. Pobre
Iracema! Ao retornar, Martim a encontra à beira da morte de tanto se esforçar
para alimentar seu filho Moacir.
Neste romance
indianista, o autor José de Alencar, além de idealizar o índio e a mulher,
exalta a natureza numa narrativa rica e envolvente. Tudo para dar mais beleza e
expressar sentimento de nacionalidade ao contar a lenda da fundação do Ceará.
Segundo vários críticos, a narrativa possui um caráter ao mesmo tempo poético e
prosaico. Por outro lado, o entendimento do texto guarda bastante dificuldade.
Isso ocorre, porque Alencar faz bastante uso da linguagem indígena. Esse,
porém, é um dos motivos que torna a obra riquíssima em detalhes linguísticos,
assim como as adjetivações e comparações que, usadas para descrever os
personagens e exaltar a natureza, fazem com que o leitor "viaje"
através da imaginação até a mata virgem descrita. Com efeito, essa descrição
exuberante, ou seja, o culto à natureza é uma das principais características do
Romantismo.
Sem dúvida, a
obra é muito importante, pois apresenta fatos históricos relativos à formação
do estado do Ceará. Entretanto, mais importante que isso é o fato de o romance
revelar um sentimento de nacionalidade único ao fazer uso de linguagem
característica e descrever tão bem as belezas naturais, o que proporciona encantamento
nos leitores até os dias atuais.
REFERÊNCIAS
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix,
1994.
PROENÇA, M.Cavalcanti. Estudos
literários. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1982.
(Gouvêa, Adriana
Luciano Santos. In: http://www.webartigos.com/artigos/resenha-do-romance-iracema/44217/#ixzz2H19VAds9.
Acesso em 04.01.2013. Texto adaptado.)
ATIVIDADE
DE LEITURA
QUESTÃO 7
A
resenha acima, de autoria de Adriana L. S. Gouvêa, apresenta o romance
“Iracema”, de José de Alencar. Nela, a autora, além de resumir brevemente a
obra, expõe criticamente seu ponto de vista em relação ao romance, chamando a
atenção para sua importância e para algumas de suas características.
A
partir dessas observações, responda:
Com base na leitura atenta dos dois
últimos parágrafos, identifique um trecho em que a autora comenta criticamente
a abordagem da natureza na obra “Iracema”, evidenciando um juízo de valor.
ATIVIDADE
DE USO DA LÍNGUA
QUESTÃO 8
Os adjetivos
e advérbios são utilizados nos textos com variados propósitos. Em uma resenha,
destacam-se seus usos como uma forma de expor o juízo de valor acerca de
determinada obra, bem como seu papel modalizador, evitando um posicionamento
categórico acerca de determinado ponto. No último parágrafo, por exemplo, o
advérbio “muito”, associado ao adjetivo “importante” (“a obra é muito
importante”), destaca o juízo positivo que a autora faz da obra de José de
Alencar. Observe o seguinte trecho destacado da resenha e faça o que se pede:
“o entendimento do texto guarda bastante dificuldade.
Isso ocorre, porque Alencar faz abundante uso da linguagem indígena. Esse,
porém, é um dos motivos que torna a obra riquíssima em detalhes
linguísticos”.
Entre as alternativas abaixo, marque
aquela em que a substituição dos termos bastante e riquíssima
mantém o mesmo sentido do texto original.
a) o entendimento do texto guarda suficiente dificuldade;/
Porém, esse é um dos motivos que torna a obra muito produtiva;
b) o entendimento do texto guarda muita dificuldade; / Porém,
esse é um dos motivos que torna a obra muito fértil;
c) o entendimento do texto guarda moderada dificuldade / Porém,
esse é um dos motivos que torna a obra sapientíssima;
d)
o entendimento do
texto guarda excessiva dificuldade / Porém, esse é um dos motivos que torna a
obra nobilíssima”.
ATIVIDADE
DE PRODUÇÃO TEXTUAL
QUESTÃO 9
No contato
com uma obra artística, é possível observar elementos que impressionam de algum
modo. Uma pintura, por exemplo, pode chamar atenção por suas cores e formas. Já
um filme pode atrair pela beleza ou emoção de suas cenas, enquanto um livro
pode estimular a imaginação e fazer refletir sobre várias questões. Mas como
contar o que se sente para alguém? Como motivar outras pessoas a ter a mesma
experiência? A resposta para essas questões pode estar no gênero textual
resenha. Isso porque, diferente do resumo, visto no ciclo passado, a resenha
não traz apenas as ideias principais de uma obra, mas revela o posicionamento
crítico de seu autor.
Neste
momento, você está convidado a desenvolver uma resenha sobre o romance lido
neste bimestre, “Lucíola”, de José de Alencar. Para ajudá-lo nesta atividade,
você pode se basear nas seguintes dicas:
1°. Depois de ler o livro, elabore um pequeno resumo. Lembre-se
que a resenha também precisa mostrar, sinteticamente, de que trata a obra, qual
a sua história.
2°. Pesquise sobre o autor, outros textos escritos por ele, a
época de sua produção e sua temática predominante.
3°. Tente avaliar como seria a história do romance hoje. Pense
de que forma são encaradas questões como o papel da mulher, o amor, a
prostituição etc. Então, avalie se o romance permanece atual ou como ele pode
contribuir para discutir essas questões.
4°. Pesquise outros textos críticos sobre o livro analisado. Saber
o que outros autores disseram sobre o romance irá inspirar o seu trabalho e
ajudar na construção de uma análise própria.
5°. Finalmente, defina o que dizer sobre o livro lido. O que
vale destacar? O que mais chamou sua atenção? Que ideia quer defender?
Para se
sentir mais seguro antes de escrever, você também pode pedir ajuda ao seu
professor para estruturar um roteiro.
Agora, mãos
à obra!
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